No âmbito das X Jornadas de Cardiologia e Hipertensão do Algarve, realizadas nos dias 15 e 16 de novembro, cardiologistas, enfermeiros e outros profissionais de saúde reuniram-se para aprofundar conhecimentos na área da Cardiologia, sob o mote “Interligação de Cuidados”. A estenose aórtica, que afeta cerca de 32 mil portugueses [1], foi um dos temas em destaque deste encontro científico.
No simpósio ‘Estenose aórtica. Diagnóstico e Perspetivas terapêuticas’, Rui Teles, cardiologista de intervenção na Unidade Local de Saúde de Lisboa Ocidental – Hospital de Santa Cruz, referiu que “a estenose aórtica é uma das doenças mais comuns das válvulas do coração, atingindo um em cada 15 pessoas em Portugal. Pode ser fatal em 50% dos doentes, dois anos após o diagnóstico, caso não seja devidamente tratada [2].”
Quando há uma estenose, ou aperto, a válvula aórtica não abre completamente e vai ficando cada vez mais estreita, o que impede o fluxo normal do sangue do ventrículo esquerdo para a artéria aorta, durante a sístole (contração) ventricular. “Os cardiologistas clínicos, os médicos de medicina interna e os médicos de medicina geral e familiar têm um papel importante no diagnóstico atempado e na referenciação dos doentes com estenose aórtica”, acrescenta o cardiologista.
Jorge Mimoso, Diretor do Serviço de Cardiologia na Unidade Local de Saúde do Algarve, e membro da Comissão Organizadora do evento, reforçou que “o tratamento da estenose aórtica é um tema de extrema importância, dada a incapacidade atual do Serviço Nacional de Saúde (SNS) de dar resposta aos doentes em lista de espera e à crescente taxa de mortalidade”. O especialista frisou ainda: “como diretor do serviço de Cardiologia, tenho trabalhado incansavelmente para que o tratamento desta doença seja uma realidade no Algarve, de forma a permitir que os doentes dessa região possam ser tratados localmente, evitando a necessidade de percorrer mais de 300 km (centro mais próximo para o tratamento da doença) para receber o tratamento adequado”.
De acordo com a iniciativa ‘Valve For Life’ da Associação Portuguesa de Cardiologia de Intervenção (APIC), em Portugal, cerca de 50% dos centros apresentam um tempo de espera médio na ordem dos 150 dias para o tratamento por cateterismo. [3] O cardiologista de intervenção, Rui Teles, refere que “a sobrecarga nos serviços de cardiologia e de cirurgia cardíaca muito tem contribuído para o aumento nos tempos de espera.” Neste sentido, os especialistas sugerem que é imprescindível aumentar a capacidade de oferta para estas técnicas de tratamento.
A estenose aórtica é uma doença grave que afeta principalmente pessoas com mais de 70 anos [4], limitando as suas capacidades e diminuindo a qualidade de vida. Se não for detetada atempadamente, pode levar a um desfecho fatal.
Organizado pela Liga dos Amigos do Serviço de Cardiologia (LASC) do Hospital de Faro, uma organização sem fins lucrativos dedicada à prevenção e sensibilização para as doenças cardiovasculares, o evento representou um momento importante para todos os participantes, que puderam debater o panorama nacional dos cuidados na área de Cardiologia.
Referências:
(1) (4) Hospital da Luz. (2024.) Estenose Aórtica. Disponível em: https://www.hospitaldaluz.pt/pt/dicionario-de-saude/estenose-aortica. [Consultado em novembro de 2024].
(2) HealthNews. (2023). Mais de metade dos centros que tratam a estenose aórtica por cateterismo apresentam uma lista de espera de 150 dias. Disponível em: https://healthnews.pt/2023/06/13/mais-de-metade-dos-centros-que-tratam-a-estenose-aortica-por-cateterismo-apresentam-uma-lista-de-espera-de-150-dias/. [Consultado em novembro de 2024].
(3) Saúde Online. (2023). Mais de metade dos centros que tratam a estenose aórtica por cateterismo têm lista de espera de 150 dias. Disponível em: https://saudeonline.pt/mais-de-metade-dos-centros-que-tratam-a-estenose-aortica-por-cateterismo-tem-lista-de-espera-de-150-dias/. [Consultado em novembro de 2024].