Não estamos sozinhos.
No entanto, por vezes, bem que podemos dizer: ‘Mais vale só que mal acompanhado’!!!!
O excesso de peso, a obesidade, as doenças metabólicas, são condições muito associadas ao estilo de vida, muito aos hábitos alimentares que hoje se assumem inadequados.
Repetindo vezes sem conta mensagens sobre ‘hábitos alimentares inadequados’ como principal condicionante da saúde, ou da falta dela, tais como ‘os Portugueses ingerem: poucos hortícolas; muitos alimentos processados; muito sal; muito açúcar; muita carne processada; muitos refrigerantes!’
Além do que possa ser verdade sobre o teor excessivo de sal, de açúcar, de gordura (saturada), de calorias, mais deve ser reforçado que muitas vezes será a falta de fitoquímicos, como os polifenóis, a falta de fibra alimentar (prebiótico) e até, a presença de aditivos alimentares como os emulsificantes, como encontramos por exemplo num tipo de alimento que muito consumimos no verão, gelados, que reside verdadeiramente o problema.
Já em 2017, numa publicação de um grupo Americano (da Universidade da Georgia) numa revista da área do cancro, se mostrou uma associação entre a exposição a emulsificantes, com um estado inflamatório (inflamação crónica de baixo grau) e o cancro do cólon. Hoje já se associa esta relação a uma alteração do microbiota intestinal, ou seja, a uma disbiose (desequilíbrio do microbiota intestinal).
Desde 2014 com a publicação na revista Nature pelo grupo coordenado pelo Elinav, grupo Israelita, que se conhece o impacto negativo no microbiota intestinal, do consumo crónico de adoçantes artificiais não calóricos e, mais recentemente, em 2019, trabalhos com stevia mostram exatamente a mesma preocupação, ou seja, uma alteração do microbiota intestinal no sentido de perfil inflamatório e associação à obesidade e à resistência à insulina.
Desde 2018, com a publicação também na revista Nature, de um grupo Alemão, sabemos que a toma de medicamentos ao longo da vida interfere na comunidade de microorganismos com os quais convivemos, sobretudo ao nível intestinal, como por exemplo os anti-ácidos, Todo este conhecimento não pretende condicionar a prescrição de medicamentos, ato médico. Vem alertar não só para os riscos de auto-prescrição de medicamentos, como para que na necessidade de os tomar, deve ser dada atenção aos efeitos no microbiota e reforçar intervenções alimentares preventivas de disbiose, não só com prebióticos, como com a eventual associação de probióticos.
Em conclusão e muito no alinhamento da comemoração do dia mundial do microbioma, dia 27 de junho, tudo está ligado ao microbiota intestinal! Assim, a toma de antibióticos, a toma de medicamentos, no geral, padrões alimentares com refeições ultraprocessadas, para além de outros fatores como desajustes circadianos, falta de exercício físico e stresse são um cocktail imbatível para impacto negativo no microbiota intestinal e assim começar toda a relação com as doenças crónicas da atualidade, desde obesidade, diabetes, cancro até às doenças mentais.
Na prática clínica, devemos dar prioridade ao microbiota intestinal, em caso de dúvida, começar sempre pelo microbiota, até porque na maioria das intervenções alimentares e/ou farmacológicas ou mesmo cirúrgicas (como é bom exemplo a cirurgia bariátrica) os outcomes quase sempre se relacionam com o microbiota intestinal.
Devemos focar a atenção clínica na causa não apenas nos sintomas!
Conceição Calhau
Professora Associada com Agregação, Nutrição e Metabolismo
NOVA Medical School, UNL