16ª Reunião Anual PortFIR | Sistemas Alimentares, Solo, Composição dos Alimentos e Saúde 139

Por Luísa Oliveira, da Unidade de Observação e Vigilância, Departamento de Alimentação e Nutrição, Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge.

 

A 16ª Reunião Anual PortFIR com o tema “Sistemas Alimentares, Solo, Composição dos Alimentos e Saúde” foi organizada pelo Departamento de Alimentação e Nutrição do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) e o seu foco na produção primária de alimentos.

A Conferência de Abertura, intitulada “Sistemas Alimentares para Dietas Sustentáveis e Saúde Planetária: A Necessidade de um Pensamento Transdisciplinar e Multinível, foi apresentada pelo Professor Colin Sage, editor de “A Research Agenda for Food Systems”. A apresentação abordou as ligações entre alimentação, clima e saúde, destacando a necessidade de uma abordagem transdisciplinar para enfrentar desafios globais.

Sage enfatizou a criação de novas estruturas e políticas nos níveis municipal, nacional e europeu, como na estratégia “Do Prado ao Prato”. Defendeu uma liderança política visionária e corajosa, capaz de desafiar forças comerciais, promovendo uma agenda cívica em torno da alimentação e ação climática, utilizando abordagens multissetoriais que valorizem o património territorial, a biodiversidade e os serviços ecológicos. Apelou ainda à colaboração entre investigadores e sociedade civil para transformar sistemas alimentares focados no lucro em modelos centrados no bem-estar humano.

Foi apresentado o relatório The Economics of the Food System Transformation”, da Food System Economics Commission (FSEC), sendo destacado que os sistemas alimentares atuais apresentam custos ocultos estimados em 15 triliões de dólares anuais (11 triliões em saúde, 3 triliões em danos ambientais, custos sociais ligados à pobreza estrutural). A FSEC propõe que seja feito um investimento de 500 mil milhões de dólares por ano até 2050 para transformar os sistemas alimentares, o qual gerará benefícios anuais de 5 triliões de dólares.

São identificadas como prioridades, a promoção de dietas saudáveis (regulação de publicidade, rótulos frente de embalagem, compras públicas e taxação de alimentos não saudáveis), reorientar subsídios agrícolas e criar redes de proteção social para garantir o acesso a alimentos. As principais barreiras à transformação são o medo de aumento de preços, perda de empregos, políticas fragmentadas, desigualdades globais e interesses enraizados.

O painel “É Possível Alimentar a População e Regenerar o Ecossistema?” analisou a produção primária nacional e explorou abordagens regenerativas aplicadas à produção de carne, leite, peixe, frutas e vegetais. Concluiu-se que é possível alimentar a população enquanto se regeneram os ecossistemas, mas isso requer alterações significativas na dieta atual. Durante o debate, várias apresentações abordaram as ligações entre a qualidade do solo, as práticas agrícolas e a composição dos alimentos.

Numa mesa-redonda, representantes de instituições públicas de investigação, universidades e da comunidade agrícola discutiram formas de produzir conhecimento colaborativo sobre sustentabilidade e regeneração. Esta discussão levou à decisão de criar um grupo de trabalho para aprofundar a investigação sobre a relação entre práticas agrícolas, saúde do solo e densidade nutricional dos alimentos.

O segundo dia da reunião iniciou-se com a questão “E a Água?” e contou com a exibição do documentário premiado “A Água é Amor: Ondas de Regeneração”, que ilustrou o poder transformador da restauração dos ciclos da água e a importância de promover uma cultura de preservação. Ao documentário, seguiram-se apresentações centradas na gestão de recursos hídricos em Portugal e na peça jornalística premiada “Sem Água Não Há Comida”.

Esta sessão, dinamizada por jornalistas, sensibilizou para a necessidade de nos reconectarmos com as bacias hidrográficas locais e destacou o modo como a regeneração dos ciclos da água influencia a qualidade e a disponibilidade da mesma, bem como a produção de alimentos, a estabilidade climática e a preservação das paisagens.

Outro destaque foi o painel intitulado “Quais as Intervenções Relacionadas com a Alimentação que Têm Impacto Direto ou Indireto na Saúde?”. Este painel abordou a dieta como um determinante-chave da saúde, analisando temas como as implicações económicas das políticas alimentares, os riscos precoces para a saúde associados a mudanças sociais, a obesidade infantil, os hábitos alimentares e os impactos de fatores socioeconómicos. Uma das conclusões mais relevantes foi que a modificação do ambiente alimentar é uma das estratégias mais eficazes e acessíveis para melhorar os resultados de saúde pública.

Um painel adicional reuniu municípios e organizações da sociedade civil para partilhar iniciativas destinadas a fortalecer os sistemas alimentares locais e a melhorar a saúde física e social das comunidades, promovendo a literacia ecológica e alimentar.

A reunião incluiu ainda apresentações dos Grupos de Trabalho da Rede de Composição de Alimentos PortFIR e de trabalhos científicos selecionados e a atribuição do prémio para o melhor poster. Contou com 569 participantes, entre oradores, moderadores, membros do júri e público, tanto presencialmente como online, e registou mais de 1200 visualizações no YouTube. A satisfação foi elevada, com 76,1% dos participantes a declararem-se Muito Satisfeitos e 23,5% Satisfeitos. Destacou-se o agrado pela oportunidade de interação entre pessoas de áreas diferentes das habituais.

O Departamento de Alimentação e Nutrição está já a preparar a 17ª Reunião Anual PortFIR, a realizar no próximo ano, esperando continuar a contar com uma ampla participação para, em conjunto, contribuirmos para uma melhor saúde da população e do planeta através de uma alimentação saudável e sustentável.